quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Vivências de um piá

Autor: Lucas Klein

Sou guri de pouca idade

Fui criado guaxinho

E desde pequeninho

Aprendi o que é verdade

Mesmo criado na cidade

Tenho gosto pelo campo

Abro a garganta e canto

As belezas da minha terra

Na invernada o gado berra

Aqui no palco eu encanto

Sou gaúcho bem pachola

Já tenho minhas namoradas

Jogo bola com a piazada

Lá no campinho da escola

E sempre tenho na sacola

Um punhado de bolitas

Escolho as mais bonitas

Para dar de regalo

Com meu jeito de galo

À mais linda gauchita.

No Estância do Cotiporã

Nos fandangos vivo dançando

Nas tertúlias ando cantando

Como pássaro num tarumã

No galpão sou picumã

Sou o cerne da tradição

É grande meu coração

Sou pequeno, sou piá

Ainda tenho que me “criá”

Mas já amo este meu chão.

Sei pouco da minha história

Como disse, fui criado guaxo

Aprendendo a ser índio macho

Fazendo minha própria glória

E se não me falha a memória

De São Gabriel sou natural

Terra linda sem igual

Leito de São Sepé

Índio taura de raça e fé

Como eu, xucro e bagual.

Foi lá que certa ocasião

Vieram me buscar

Querendo me adotar

Com amor no coração

Pra me dar um novo chão

Apesar de não ter sangue

Por onde quer que ande

Eu digo que sou alemão

Pois assim é meu coração

Que de orgulho se expande.

Ganhei nome de artista

O Nome do Teixeirinha

A minha fama caminha

Também serei repentista

Não me chamem de gremista

Fui colorado já que nasci

Torço junto com o saci

Sou campeão do mundo

Não sou de Passo Fundo

Minha Terra é Ivoti

Antes de dizer Adeus

Vou lhes dizer agora

Que aquela senhora

É Mãe que pedi pra Deus

Findando os versos meus

Encerrando meu contar

Meu abraço vou deixar

Faz parte da minha vida

Esta platéia querida

E o fim tem que rimar.

domingo, 9 de março de 2008

Eterna Procura



Autor: Lucas Klein

Eterna procura

Procurei na escuridão da noite
A imensidão onde me perdia
Ao mirar todos os dias
A profundeza dos teus olhos.

Procurei em outros colos
O calor que me aquecia
Nas noites de chuva fria
Lá no rancho onde moro.

Perguntei aos mascates
Pela seda dos cabelos teus
Que afaguei nas tardes de mate
Enquanto afagaste os meus.

Procurei teu cheiro de flor
Nos perfumes da primavera
Que senti nas horas de amor
E que hoje me são Quimeras.

Nas Milongas fui buscar
As palavras de tanto carinho
Que em longas noites de luar
Tu me disse em nosso ninho.

Muito mate eu adocei
Procurando pela doçura
Dos teus lábios que beijei
Com aroma de candura.

Busquei nos pelegos
O conforto dos teus braços
Onde aquietei anseios
No calor do teu abraço.

Desisti de tanta procura
Talvez agora me renda
A viver nesta amargura
Sem ti, minha Prenda.

quinta-feira, 6 de março de 2008

O Matear Solito




Autor: Lucas Klein

O Matear solito

Que coisa triste é matear solito.
O peão por mais xucro, se entrega nesta hora.
Toma um trago, acende um pito,
Depois tira o chapéu, não se agüenta. E chora!
Chora um pranto de lágrima serena.
São lembranças que lhe vem a memória,
Saudades da morena que fez parte da sua história.

O mate parece azedo neste momento
Cada gole é um sofrimento, uma angústia...
É uma dor que arde na alma do vivente,
Só quem mateuo solito sabe a dor que ele sente.
Pobre taura... de levar pialo, já esta cansado
Agora de mate lavado, se atraca na cachaça.
Pois a vida não tem mais graça e se entrega ao desgosto
A tristeza lhe puxa, pois é maldito o mês de agosto.

Cai uma garoa límpida lá fora
O peão mira triste o campo encharcado
A tristeza não quer ir embora
E ele novamente se vê arrasado
Consumido pela cachaça
Estão trêmulas as mãos calejadas
Mãos rústicas de força e de raça
Que agora balanceiam derrotadas

Quem te viu taura destemido
Jamais diria que és tu
Desta forma, consumido
Neste estado deplorável
Embora antes foste saudável
Agora entregue ao desalento
Pois maldito é o sofrimento
Que traz um mate sem companhia

O mate, talvez símbolo de amizade.
Ou até mesmo de hospitalidade.
E também símbolo de amor
Dos casais apaixonados
Que mateiam abraçados.
Mas o mate também é símbolo de dor
No matear solito, na triste solidão.
De alguém que remói angustias.
Perdendo o pulsar do coração.


E ao olhar aquela chuva
Tua visão se perdeu no horizonte
Já não querias mais mate, nem cachaça
Nem pitar tu quizeste
Nem de viver tiveste vontade
Pois a vida não teve graça
Quem sabe foi saudade
Que não quis ir embora
Não há quem de explicação
Pois o que te consumiu naquela hora
Foi a maldita depressão.

Levantou-se
Carregando nas mãos a sua vida
Foi buscar a espingarda
A cadela preta, sua única companhia
Saiu de atrás apressada
Certamente pensou que iria caçar
Quando viu o vivente com sua arma
Pobre cadela preta prestes a perder seu dono
Talvez somente ela sofresse o abandono

Somente um cartucho no bolso levou
Somente um tiro no rochedo ecoou
Encontraram a cadela sentada
Uivando seu choro fúnebre
Bem do lado da face gelada
Do corpo do peão seu amigo.
Um furo na testa queimou.
No bolso um bilhete deixou.
Com versos rimados a dizer:

“Sem nome, sem história.
Por aqui não fiz memória,
Meu mate foi envenenado
O destino me foi trassado.
Aos vinte e oito de idade
Do mesmo calibre foi o tiro
Lamento não deixar saudadeNa prenda que eu admiro!”

Meu Cavalo Maestro do Carumbé


Autor: Lucas Klein

Meu cavalo - Maestro do Carumbé

Meu pai, um alemão criado na roça,
depois de morar na cidade,
resolveu comprar uma montaria.
Então, pagou duzentos pila
por uma égua velha, tostada
que, de crioula, não tinha nada.
Costumava-se dizer no rodeio,
que ele comprou os arreios
e a égua veio de brinde.

Lá em casa não tinha pouso para a égua,
ela ficava na estância do meu tio.
E lá, todo mundo montava:
era primo, irmão e cunhada.
Ou, quem não tinha vergonha
de montar numa égua medonha
daquele feitio.

Eu, era um piazito,
não tinha uma dúzia de idade.
Mas, montado na minha égua...
Eu era pura vaidade!

Certa feita, num sábado,
morreu a minha égua.
Meu pai, que não podia me ver
a chorar a perda da minha egüinha,
tratou de comprar outra...
Esta... parecia uma mulinha!
Era uma petiça tordilha,
na qual eu insistia em botar rendilha,
para ver se ela tomava postura.

Todo domingo eu ia pro CTG.
Minha mãe – orgulhosa – vinha me ver,
escorada num moeirão.
E a coitada da tordilha,
que mal tinha a altura das novilhas,
eu judiava nas esporas.
Mas, na última hora,
botava a armada no chão.

Então, meu pai me disse
que me dava o que eu queria:
um cavalo macanudo,
até podia ser cuiudo
de fazer balaca para as gurias.

Numa manhazita de domingo,
o pai e eu saimo cambiá um pingo
na estância de um doutor da cidade...
Pois ele, já sentindo o peso da idade,
estava vendendo sua tropilha.

Na estância,
alcei a perna num tordilho...
Bueno, por sinal!
Grande... feito um tanque.
Mas no canto do alambrado,
ataram num palanque,
um bagual colorado!

Calçado de três pata,
pescoço grosso,
era pura morfologia da raça crioula.
Cutuquei o pai e apontei pro douradilho.
Nos olhos dele,
eu pude ver o brilho do interesse.
- E o colorado? - Perguntou .
- Esse não é de venda. É montaria do meu neto.
- Pago o dobro do tordilho!- Retrucou meu pai.
E o doutor ficou quieto.
Não resistiu à proposta
e nos entregou os documentos
da confirma do animal.

Eu saí de lá montadito
em pêlo na garupa do bagual.
Saí da estância meio assustado,
pois não conhecia o colorado
e não sabia de suas manias.

O pingo...
saiu num trote manso.
que nem ganso,
deixando o açude.
Cutuquei o pingo
no garrão, na avenida de Ivoti,
montadito a capricho...
pensando, lembrando
o que o doutor tinha me dito:
- Guri, esse pingo Deus fez para ti!

Me sentia um peão feito,
montado no bagual.
Eu tinha só 15 anos,
a mesma idade do animal.
Meu pai arranjou pouso pro bagual
na estância do Seu Jacó.
Era uma chácara arrendada,
onde dos cavalos ele cuidava
e não cobrava quase nada.

Alguns anos mais tarde, manhãzita de domingo.
Era cedo, eu já tinha encilhado o pingo.
E, meio apressado, tropeçando nas esporas
porque já estava chegada a hora
de bater casco na estrada.
Por volta das seis e meia, o Jacó deu entrada no galpão,
perguntando:
- Tchê, onde tu vais assim... a capricho?
- Vou atrás de um cambicho que tenho lá na cidade!
Respondi mais faceiro que piá de chinelo novo.

O Maestro firmou o passo no estradão,
parecia até que ele sentia... aquilo
que eu sentia aqui dentro do coração.
Ala puxa, que estrada comprida!
Que mais longe ficava por culpa da saudade
que eu tinha da prenda amada.

Era uma prenda lindaça, de boa família.
Daquelas... de mostrar para a mãe.
Passei o dia inteiro por lá,
e o Maestro, atado num pé de ingá,
garanto que me entedia.
Pois, sabia o que eu sentia
por aquela guria.
Na volta,
parecia que o Maestro vinha dançando...
Aquela milonga apaixonada,
que eu andava assoviando.

Era tarde da noite quando cheguei na estância.
Faceiro, nem sabia que perderia a prenda
por culpa da distância.

O Jacó, a cada pouco me pedia:
- Encilha o colorado
e me ajuda a lidar com o gado
lá no campo do Seu Garcia!

Seu Garcia era um velho gordo,
do tipo guaiaca forrada...
Dinheiro não lhe faltava!
Quando via o Maestro na lida,
ele gritava lá do alambrado:
- Dou dez mil!!! Pelo colorado!

Ele tenteava!
Mas, como todo mundo, sabia
que o Maestro... eu não vendia.
- Esse é da família! Dele eu não me separo!
Era resposta que eu tinha para todo interessado.

Mas... na Cavalgada do Minuano,
do ano de 2005,
perdi o Maestro amigo.

Quem levou meu cavalo
até hoje não me pagou nada...
Foi a morte desgraçada
que me deu um pé-de-amigo.

O minuano, assovio retumbante,
abafou o relincho do bagual,
estava feito o funeral
do Maestro do Carumbé.
Não quero mais outro cavalo...
Por isso, hoje...
Ando a pé!

E hoje, São Pedro anda bem a cavalo.
Está montado no meu Maestro,
cuidando a porteira do céu.
E aqui, tirando meu chapéu,
peço a Deus e a Virgem Maria.
Quando eu deixar dessa vida,
quero encontrar o Maestro...
No além.
Em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo.
Amém!

Minha prenda Mirim















Autor: Lucas Klein

Minha prenda Mirim

Mateando solito, papel e caneta na mão,
Me veio à mente a imagem desta prendinha.
Retrato vivo da pureza, da tradição.
Tão meiga, tão bela e pequenina.
Com seu olhar cativante de menina,
seu caminhar pulado de criança,
E o desfrutar feliz de sua infância

Parece uma bonequinha
com seu vestido amarelo,
No cabelo lacinhos de fita
E seu jeito tão belo
de ser prenda bonita.
Como florzinha de macela
no campo a enfeitar
Tu és a prendinha mais bela
no galpão a dançar.

Como pode, tão pequenina e tão delicada.
Fazer chorar, as mais rudes das criaturas.
Prendinha dedicada exemplo de formosura.
Declama meus versos.
Molha o rosto da gente.
Faça esse agrado pra mim
Farás meu coração mais contente
Pois tu és minha prenda mirim.

Prendinha leva sempre contigo.
Tua maneira singela de ser.
Eu quero te ver crescer,
com tua simplicidade.
Sempre mais bela vai ser.
Se tiveres esta humildade.

Por isso, Prendinha querida.
Tens uma página marcada,
Com flores enfeitada,
No livro da minha vida.