quinta-feira, 6 de março de 2008

Meu Cavalo Maestro do Carumbé


Autor: Lucas Klein

Meu cavalo - Maestro do Carumbé

Meu pai, um alemão criado na roça,
depois de morar na cidade,
resolveu comprar uma montaria.
Então, pagou duzentos pila
por uma égua velha, tostada
que, de crioula, não tinha nada.
Costumava-se dizer no rodeio,
que ele comprou os arreios
e a égua veio de brinde.

Lá em casa não tinha pouso para a égua,
ela ficava na estância do meu tio.
E lá, todo mundo montava:
era primo, irmão e cunhada.
Ou, quem não tinha vergonha
de montar numa égua medonha
daquele feitio.

Eu, era um piazito,
não tinha uma dúzia de idade.
Mas, montado na minha égua...
Eu era pura vaidade!

Certa feita, num sábado,
morreu a minha égua.
Meu pai, que não podia me ver
a chorar a perda da minha egüinha,
tratou de comprar outra...
Esta... parecia uma mulinha!
Era uma petiça tordilha,
na qual eu insistia em botar rendilha,
para ver se ela tomava postura.

Todo domingo eu ia pro CTG.
Minha mãe – orgulhosa – vinha me ver,
escorada num moeirão.
E a coitada da tordilha,
que mal tinha a altura das novilhas,
eu judiava nas esporas.
Mas, na última hora,
botava a armada no chão.

Então, meu pai me disse
que me dava o que eu queria:
um cavalo macanudo,
até podia ser cuiudo
de fazer balaca para as gurias.

Numa manhazita de domingo,
o pai e eu saimo cambiá um pingo
na estância de um doutor da cidade...
Pois ele, já sentindo o peso da idade,
estava vendendo sua tropilha.

Na estância,
alcei a perna num tordilho...
Bueno, por sinal!
Grande... feito um tanque.
Mas no canto do alambrado,
ataram num palanque,
um bagual colorado!

Calçado de três pata,
pescoço grosso,
era pura morfologia da raça crioula.
Cutuquei o pai e apontei pro douradilho.
Nos olhos dele,
eu pude ver o brilho do interesse.
- E o colorado? - Perguntou .
- Esse não é de venda. É montaria do meu neto.
- Pago o dobro do tordilho!- Retrucou meu pai.
E o doutor ficou quieto.
Não resistiu à proposta
e nos entregou os documentos
da confirma do animal.

Eu saí de lá montadito
em pêlo na garupa do bagual.
Saí da estância meio assustado,
pois não conhecia o colorado
e não sabia de suas manias.

O pingo...
saiu num trote manso.
que nem ganso,
deixando o açude.
Cutuquei o pingo
no garrão, na avenida de Ivoti,
montadito a capricho...
pensando, lembrando
o que o doutor tinha me dito:
- Guri, esse pingo Deus fez para ti!

Me sentia um peão feito,
montado no bagual.
Eu tinha só 15 anos,
a mesma idade do animal.
Meu pai arranjou pouso pro bagual
na estância do Seu Jacó.
Era uma chácara arrendada,
onde dos cavalos ele cuidava
e não cobrava quase nada.

Alguns anos mais tarde, manhãzita de domingo.
Era cedo, eu já tinha encilhado o pingo.
E, meio apressado, tropeçando nas esporas
porque já estava chegada a hora
de bater casco na estrada.
Por volta das seis e meia, o Jacó deu entrada no galpão,
perguntando:
- Tchê, onde tu vais assim... a capricho?
- Vou atrás de um cambicho que tenho lá na cidade!
Respondi mais faceiro que piá de chinelo novo.

O Maestro firmou o passo no estradão,
parecia até que ele sentia... aquilo
que eu sentia aqui dentro do coração.
Ala puxa, que estrada comprida!
Que mais longe ficava por culpa da saudade
que eu tinha da prenda amada.

Era uma prenda lindaça, de boa família.
Daquelas... de mostrar para a mãe.
Passei o dia inteiro por lá,
e o Maestro, atado num pé de ingá,
garanto que me entedia.
Pois, sabia o que eu sentia
por aquela guria.
Na volta,
parecia que o Maestro vinha dançando...
Aquela milonga apaixonada,
que eu andava assoviando.

Era tarde da noite quando cheguei na estância.
Faceiro, nem sabia que perderia a prenda
por culpa da distância.

O Jacó, a cada pouco me pedia:
- Encilha o colorado
e me ajuda a lidar com o gado
lá no campo do Seu Garcia!

Seu Garcia era um velho gordo,
do tipo guaiaca forrada...
Dinheiro não lhe faltava!
Quando via o Maestro na lida,
ele gritava lá do alambrado:
- Dou dez mil!!! Pelo colorado!

Ele tenteava!
Mas, como todo mundo, sabia
que o Maestro... eu não vendia.
- Esse é da família! Dele eu não me separo!
Era resposta que eu tinha para todo interessado.

Mas... na Cavalgada do Minuano,
do ano de 2005,
perdi o Maestro amigo.

Quem levou meu cavalo
até hoje não me pagou nada...
Foi a morte desgraçada
que me deu um pé-de-amigo.

O minuano, assovio retumbante,
abafou o relincho do bagual,
estava feito o funeral
do Maestro do Carumbé.
Não quero mais outro cavalo...
Por isso, hoje...
Ando a pé!

E hoje, São Pedro anda bem a cavalo.
Está montado no meu Maestro,
cuidando a porteira do céu.
E aqui, tirando meu chapéu,
peço a Deus e a Virgem Maria.
Quando eu deixar dessa vida,
quero encontrar o Maestro...
No além.
Em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo.
Amém!

2 comentários:

Luise Klein disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Luise Klein disse...

Primeiro comentário...
Muito boa a tua idéia de criar um blog e postar os teus poemas, por que todos precisam conhecer as tuas obras, assim sera reconhecido mais do que ja esta sendo...
sucesso... tenho orgulho de ti, meu irmao querido!!

beijos