quinta-feira, 6 de março de 2008

O Matear Solito




Autor: Lucas Klein

O Matear solito

Que coisa triste é matear solito.
O peão por mais xucro, se entrega nesta hora.
Toma um trago, acende um pito,
Depois tira o chapéu, não se agüenta. E chora!
Chora um pranto de lágrima serena.
São lembranças que lhe vem a memória,
Saudades da morena que fez parte da sua história.

O mate parece azedo neste momento
Cada gole é um sofrimento, uma angústia...
É uma dor que arde na alma do vivente,
Só quem mateuo solito sabe a dor que ele sente.
Pobre taura... de levar pialo, já esta cansado
Agora de mate lavado, se atraca na cachaça.
Pois a vida não tem mais graça e se entrega ao desgosto
A tristeza lhe puxa, pois é maldito o mês de agosto.

Cai uma garoa límpida lá fora
O peão mira triste o campo encharcado
A tristeza não quer ir embora
E ele novamente se vê arrasado
Consumido pela cachaça
Estão trêmulas as mãos calejadas
Mãos rústicas de força e de raça
Que agora balanceiam derrotadas

Quem te viu taura destemido
Jamais diria que és tu
Desta forma, consumido
Neste estado deplorável
Embora antes foste saudável
Agora entregue ao desalento
Pois maldito é o sofrimento
Que traz um mate sem companhia

O mate, talvez símbolo de amizade.
Ou até mesmo de hospitalidade.
E também símbolo de amor
Dos casais apaixonados
Que mateiam abraçados.
Mas o mate também é símbolo de dor
No matear solito, na triste solidão.
De alguém que remói angustias.
Perdendo o pulsar do coração.


E ao olhar aquela chuva
Tua visão se perdeu no horizonte
Já não querias mais mate, nem cachaça
Nem pitar tu quizeste
Nem de viver tiveste vontade
Pois a vida não teve graça
Quem sabe foi saudade
Que não quis ir embora
Não há quem de explicação
Pois o que te consumiu naquela hora
Foi a maldita depressão.

Levantou-se
Carregando nas mãos a sua vida
Foi buscar a espingarda
A cadela preta, sua única companhia
Saiu de atrás apressada
Certamente pensou que iria caçar
Quando viu o vivente com sua arma
Pobre cadela preta prestes a perder seu dono
Talvez somente ela sofresse o abandono

Somente um cartucho no bolso levou
Somente um tiro no rochedo ecoou
Encontraram a cadela sentada
Uivando seu choro fúnebre
Bem do lado da face gelada
Do corpo do peão seu amigo.
Um furo na testa queimou.
No bolso um bilhete deixou.
Com versos rimados a dizer:

“Sem nome, sem história.
Por aqui não fiz memória,
Meu mate foi envenenado
O destino me foi trassado.
Aos vinte e oito de idade
Do mesmo calibre foi o tiro
Lamento não deixar saudadeNa prenda que eu admiro!”

Um comentário:

Luise Klein disse...

Primeiro comentário...
Muito boa a tua idéia de criar um blog e postar os teus poemas, por que todos precisam conhecer as tuas obras, assim sera reconhecido mais do que ja esta sendo...
sucesso... tenho orgulho de ti, meu irmao querido!!

beijos